Quase todos os dias venho recebendo mensagens com convite para subscrever uma petição contra o que, dizem, será um “desastre” a construção de hidroelétrica de Monte Belo.
Invariavelmente, tomo um pouco do meu tempo para responder ao remetente que, por não conhecer os detalhes do polêmico projeto, não me sinto em condições de assinar tal petição. Faço esta ressalva e alerto sobre a importância de termos cuidado em nos posicionar sobre temas técnicos desconhecidos. Lembro ainda as necessidades futuras do Brasil, a necessidade de deixar a discussão ocorrer em fóruns adequados, de se manter uma matriz energética dita “limpa”, etc, etc.
Também, invariavelmente, recebo respostas com os mais diferentes argumentos opostos. Desde os ecologicamente corretos até a necessidade de manter os políticos afastados das licitações da usina. Vale tudo para justificar a petição.
Para o bem da verdade, não sou nem a favor nem contra o projeto. Simplesmente o desconheço para opinar com seriedade.
Me chama atenção, também, o fato de que estas discussões acabam perdendo seu foco. Afinal, haverá ou não um “desastre” ecológico ? Não é este o mote da tal petição ?
Quem de nós, razoavelmente atento às colunas e aos assuntos econômicos, não sabe ou já não leu sobre o “custo Brasil” ? O porto de Santos, por exemplo, é um dos grandes responsáveis por ele : falta de infraestrutura, mão de obra qualificada, produtividade muito baixa, etc. Poucos vivem estes problemas locais mas todos nós pagamos sua conta nos caixas dos supermercados, nas lojas de departamentos ou na hora de comprar um carro.
Pois bem; se hoje é assim, há cinco, dez anos atrás, era muito pior.
Em 2003, eu andava por lá, trabalhando em um terminal marítimo, privado. O gargalo de espaço para navios e cargas era imenso e convivia com um longo píer, abandonado, que não servia nem para uma coisa nem para a outra, muito pelo contrário.
Os acionistas do terminal contrataram então um projeto que revitalizaria aquele píer, dando ao terminal mais outro berço de atracação para navios, novas máquinas, mais espaço, etc. Alguns milhões a serem investidos.
Dada a partida no processo das licenças necessárias, financiamentos e autorizações, tudo caminhava bem até a chegada dos fiscais do meio ambiente. Pareceres para cá, pareceres para lá, conclusão : a obra não receberia a licença ambiental e estava, portanto, proibida.
A razão ? Simples : descobriram que a ponta do velho píer vinha sendo usada como local de ninhos e maternidade dos pássaros “quero-quero” que estavam desaparecendo da área do porto.
E o que os ninhos dos quero-quero têm a ver com a petição contra o desastre em Monte Belo ?, podem perguntar vocês.
Simplesmente que “desastre” é um conceito ou um fato cujas consequências são muito subjetivas, principalmente quando não as conhecemos bem.
Portanto, pensem bem antes de saírem assinando qualquer petição por aí ... As bandeiras podem ser boas mas estar no mastro errado.
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