(i)
Divulga a prefeitura de uma cidade :
- Dois milhões de pessoas assistem aos fogos na passagem do ano ...
Divulga a outra :
- Quinhentas mil pessoas assistem à queda da maçã na passagem do ano ...
Ficamos na dúvida :
- Dois milhões ou um milhão e meio ? Quinhentas ou quatrocentas mil ? No final, alguém vai contar ? Afinal, para que servem estas estimativas ?
Alguém responde :
- A prefeitura precisa exaltar a alegria, promover o turismo ...
(ii)
Grita o partido da oposição :
- Trezentas mil pessoas na passeata de ontem ...
Responde a polícia do governo :
- Trinta e cinco mil estiveram ontem ....
Fica o eleitor na dúvida :
- Trezentos mil ou cem mil ? Trinta e cinco ou cinquenta mil ? Será que alguém contou ? Mas, também, para que ?
Responde o amigo na mesa do bar :
- Pura propaganda. Interesses políticos. Precisam de nossos votos ...
- Trezentas mil pessoas na passeata de ontem ...
Responde a polícia do governo :
- Trinta e cinco mil estiveram ontem ....
Fica o eleitor na dúvida :
- Trezentos mil ou cem mil ? Trinta e cinco ou cinquenta mil ? Será que alguém contou ? Mas, também, para que ?
Responde o amigo na mesa do bar :
- Pura propaganda. Interesses políticos. Precisam de nossos votos ...
(iii)
Divulga um país :
- Quarenta mil mortos ...
Diz o outro :
- Quatro mil desaparecidos, oito mil afogados ....
Publicam os jornais :
- Cento e vinte mil mortos pelo tsunami !
Ficamos a pensar :
- Quatro, quarenta, oito, cento e vinte mil ... ? Quem há de contar os números reais da tragédia ?
- Quarenta mil mortos ...
Diz o outro :
- Quatro mil desaparecidos, oito mil afogados ....
Publicam os jornais :
- Cento e vinte mil mortos pelo tsunami !
Ficamos a pensar :
- Quatro, quarenta, oito, cento e vinte mil ... ? Quem há de contar os números reais da tragédia ?
O cara do lado completa :
-E, para que, se a morte real se conta em unidades, em cada família, sem estimativas, cálculo puro e real ? E o valor da dor, que nós não conhecemos, porque não estimam também ? Não daria outras boas e maiores manchetes ?
E mais alguém em dúvida :
- Como e para que contam dessa forma se mal há tempo para irem enterrando ou queimando seus mortos ?
Pensamos todos :
- É .... são a vida e morte sendo banalizadas pelas estimativas. No fundo, deve ser a necessidade da busca de um melhor lugar na fila das carências nacionais ... Quem chora mais não mama mais .... ?
Reclama alguém na roda :
- Se nunca vamos saber ao certo, se cem ou cento e vinte mil, porque - pelo menos - não salvam a vida de uns dez mil ? Seriam dez mil a mais, vivos .... As estimativas não se incomodariam mas os sobreviventes e leitores, ainda atônitos e afogados pelos números disbaratados, agradeceriam ...
Alguém levanta a dúvida maior :
- Mas, quem sabe, não serão cento e cinquenta, duzentos mil ? Uns cinquenta mil a mais ..., por baixo ?
E mais alguém em dúvida :
- Como e para que contam dessa forma se mal há tempo para irem enterrando ou queimando seus mortos ?
Pensamos todos :
- É .... são a vida e morte sendo banalizadas pelas estimativas. No fundo, deve ser a necessidade da busca de um melhor lugar na fila das carências nacionais ... Quem chora mais não mama mais .... ?
Reclama alguém na roda :
- Se nunca vamos saber ao certo, se cem ou cento e vinte mil, porque - pelo menos - não salvam a vida de uns dez mil ? Seriam dez mil a mais, vivos .... As estimativas não se incomodariam mas os sobreviventes e leitores, ainda atônitos e afogados pelos números disbaratados, agradeceriam ...
Alguém levanta a dúvida maior :
- Mas, quem sabe, não serão cento e cinquenta, duzentos mil ? Uns cinquenta mil a mais ..., por baixo ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário