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01 dezembro 2004

Cidade Maravilhosa

Turista é mesmo uma espécie de idiota ambulante.

As maravilhas desta cidade são, na verdade, muito poucas. Mas, se é assim, o que fazem esses milhares de visitantes a circular em bandos pelas suas ruas e avenidas ? Tire-se do mapa um parque central e aquela estátua com pose de atleta abrindo qualquer olimpíada, o que resta ? Ruas, avenidas, um punhado de arranha-céus de onde se pode ver, do alto, outro punhado de edifícios no meio do cinza, que mais ?

- E os teatros e museus ? , perguntarão os que já começam a aceitar a provocação.

Sim, vá comprar uma entrada para um musical ou tente contemplar um Gauguin por aqui
 e descubra porque turistas e idiotas se confundem tanto.

Assim, estamos todos pelas ruas, máquinas digitais cobrindo tudo, para um dia mostrar o que restou em suas memórias para um parente mais paciente. Uma fachada aqui, uma árvore desfolhada ali, e lá vamos todos documentando tudo ou buscando justificar a extorsão que nos impõem. Mas isto é assunto para outro dia.

Continuando nosso passeio. O dia está extraordinariamente pouco frio, o céu é azul. Isto, reconheçamos, é uma das maravilhas locais. Vamos aproveita-lo pois temos pouco tempo, afinal daqui a pouco vai chover ou, muito antes, vamos levar um esbarrão de algum japonês, obrigando-nos a olhar o mundo real. A verdade é que por aqui não há espaço para sonhadores ou ecologistas em férias.

De repente, aquela cena - apesar de rara - que já nos chocou um dia. Na esquina, sobre um plástico azul estendido, fitas de DVD e bolsas Vuiton. Camelô, vendedor ambulante ou simplesmente um desempregado em busca de sobrevivência. Realmente, nenhum canto neste mundo é perfeito e a justiça, com certeza, ainda não chegou para ninguém.

Não há como deixar de esquecer onde estamos e viajar de volta em vôo instantâneo. Rio de Janeiro, aí estamos de volta por suas ruas e avenidas bem mais estreitas e sujas onde os turistas são poucos (também idiotas, sofrendo ainda mais por roubos e pivetadas adicionais), porém onde os mesmos camelôs proliferam como erva daninha nos parques centrais dos primos ricos, disputando os hoje tão valiosos metros quadrados de nossas calçadas.

As comparações são imediatas. O que fizeram com nossa cidade ? Como começou e como vai acabar tanta degradação social e urbana ? Até quando vão continuar destruindo as belezas que temos e que não são (ainda) artificiais como por aqui ? Onde foram parar muitas de suas maravilhas ? Porque não é mais como aqui ?

O passeio termina porém volto para casa com algo a martelar a mente : - Afinal, qual delas é a verdadeira cidade maravilhosa ?


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